terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Projeto MIL TONS

O projeto MIL TONS foi concebido a partir do encontro do guitarrista Otto Bruno, procedente da arte flamenca e também dedicado ao estudo dos violões erudito e popular, com Laura Dantas, compositora e cantora. Uma afinidade de gostos e idéias musicais fez a dupla, também estudante da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, montar um projeto cujo esboço nasceu em 1999. “Naquela época, gravei algumas músicas minhas no Rio de Janeiro, acompanhada por um amigo compositor e violonista, chamado Luis Alberto Melo, de quem gravei também duas músicas. Sempre quis cantá-las com uma formação instrumental maior, mas essa idéia estava adormecida até o ano passado, quando me cruzei com Otto Bruno na Escola de Música. Ele conheceu uma das canções e logo se interessou em fazer os arranjos e formatar comigo esse projeto”, diz Laura.

Com composições e arranjos próprios, o MIL TONS herdou o mesmo nome da canção que o apresenta e que homenageia compositores da música popular brasileira. “Quando fiz a canção, queria falar da contribuição desses autores de uma forma poética e lúdica, brincando com o sentido da letra, que diz: 'voz na Travessia/ Milton, ilu-Minas' , 'Alceu ventania/ leque de Olinda'”.

Do pôr-do-sol da Baía de Todos os Santos à geografia da cidade do Rio de Janeiro, em composições como Pedra Furada (Laura Dantas/ Milson Sales) e Santo Guardião (Laura Dantas), o clima é de exaltação, “sem muita exaltação”, brinca ela ao contar que Pedra Furada é “quase um segundo tempo da canção Farol da Barra, dos Novos Baianos” e Santo Guardião, que começa numa bossa e termina num partido alto, surgiu de uma “antiga vontade que eu tinha de falar da beleza geográfica da cidade do Rio de Janeiro que, apesar dos pesares, continua estonteante”.
Entre outras canções escolhidas para compor o repertório, estão ainda sambas feitos entre os anos 30 e 60, como os do pout-pourri que agrega Falsa Baiana (Geraldo Pereira), Tiro ao Álvaro (Adoniran Barbosa/ Osvaldo Moles), Samba Rasgado (Portello Juno e Wilson Falcão) e o folclore Meu Limão, Meu Limoeiro, em contraponto com o recentíssimo samba Cabide (Ana Carolina). “Escutei este samba cantado por Mart'nália no DVD que ela gravou em Berlim ano passado. Isso, bem antes de a novela das oito estrear. Como tínhamos criado um arranjo bacana para ele, resolvemos manter. É a única música que a gente toca que tá na onda”, diz, ao falar de outras pinçadas para o repertório como Anjo Exterminado (Jards Macalé/ Wally Salomão) e Canto de Chegada, do compositor baiano Dinho Oliveira. “O Luciano Pimentel fez um belo arranjo vocal para a música do Dinho. É um momento superbonito do show, em que todos cantam juntos”. Também estão presentes Estate, canção italiana gravada no antológico álbum Amoroso, de João Gilberto, e Nine Out Of Ten, do também histórico disco Transa, de Caetano Veloso. “São jeitos brasileiros de cantar lindamente em língua estrangeira”.

Com instrumental atípico – “a gente faz samba com flauta e violino” –, o grupo Quanta, formado por Otto Bruno (direção musical, violões de nylon, aço e sete cordas), Ana Júlia Bittencourt (flauta), Jacó Borges (violino e teclados), Luciano Pimentel (contabaixos acústico e elétrico) Mariana Marin e Alexandra Pessoa (percussão), explora e valoriza as especificidades de cada instrumento a partir de uma estética que, além de misturar as vertentes do samba, passeia pelo funk, jazz, baião, soul e até flamenco.

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